sábado, 19 de fevereiro de 2011

“Não me interessa mais permanecer no Judiciário”

Ex-juiz Marcelo Mezzomo - Arquivo Pessoal

Em entrevista à ConJur, Marcelo Mezzomo, primeiro juiz gaúcho exonerado por conduta inadequada, diz que estava desencantado e frustrado no Judiciário.

 O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em sessão pública realizada dia 7 de fevereiro último, de forma inédita, condenou um juiz de primeira instância à perda do cargo. Os desembargadores entenderam, à unanimidade, que Marcelo Colombelli Mezzomo, da Comarca de Três Passos (a 478km da capital), não reunia mais condições de envergar a toga, depois de ser acusado de ‘‘conduta inadequada’’ em uma sorveteria da cidade – fato que gerou um Boletim de Ocorrência e, em decorrência, um Procedimento Administrativo Disciplinar no tribunal. Os fatos aconteceram às primeiras horas do dia 29 de maio do ano passado.
O pivô do imbróglio foi uma jovem atendente, nora da dona do estabelecimento. A garota se sentiu constrangida diante do olhar de Mezzomo, classificado por sua sogra como “atrevido”. Ele nega ter feito comentários impróprios, mas confirma um elogio à beleza da moça. Para o relator do processo, desembargador Luiz Ari Azambuja Ramos, a certeza dos fatos noticiados está alicerçada na firme versão das proprietárias da sorveteria.
Antes deste julgamento — que lhe impôs um revés definitivo, já que não recorreu da decisão —, o então magistrado já havia sofrido pena de censura por se envolver num acidente de trânsito e respondia a outros processos por conduta inconveniente. Em dezembro, Marcelo chegou a pedir sua exoneração, pois já se declarava desencantado com o Judiciário — o que foi negado até o dia do julgamento. Ele estava afastado da jurisdição desde julho de 2010.
Em entrevista exclusiva concedida à Consultor Jurídico, o primeiro juiz gaúcho a ser exonerado por conduta inadequada se diz desencantado com o Judiciário: ‘‘Sou um indivíduo de ação, me sentia frustrado’’. Ele dá a atender que se sentiu aliviado com a decisão do Tribunal de Justiça. “Quanto ao questionamento de como me sinto? Ótimo, agora, poderei desenvolver minhas potencialidades na sua plenitude e produzir muito mais pela sociedade gaúcha, além de me realizar muito mais como pessoa.”
O ex-juiz também acumulava críticas por se recusar a aplicar a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), por considerá-la ‘‘inconstitucional e violadora da igualdade entre homens e mulheres’’. Muitas vezes, quando na titularidade da 2ª Vara Criminal de Erechim, referia em suas sentenças que ‘‘o equívoco desta lei foi pressupor uma condição de inferioridade da mulher, que não é a realidade da Região Sul do Brasil, nem de todos os casos, seja onde for"; e que "perpetuar esse tipo de perspectiva é fomentar uma visão preconceituosa, que desconhece que as mulheres, hoje, são chefes de muitos lares e metade da força de trabalho do país".
Marcelo Mezzomo nasceu em 25 de setembro de 1974, no município gaúcho de Lagoa Vermelha, e é separado. Foi sargento do Exército, entre janeiro de 1995 e junho de 1997; estagiário da Procuradoria-Geral do Estado do Rio Grande do Sul (PGE), de novembro de 2000 a setembro de 2002; e servidor do Ministério Público Estadual, de setembro de 2002 a junho de 2007. Ingressou na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em setembro de 1996, concluindo o curso de Direito em agosto de 2002. No início de 2003, começou a prestar concurso para a Magistratura — o que se estendeu até setembro de 2006. Tomou posse como magistrado em 25 de junho de 2007, jurisdicionando as comarcas de Erechim, Planalto e Três Passos.
A partir de agora, pretende abrir o seu escritório de advocacia e dar aulas.
Leia a entrevista:
ConJur — O senhor acaba de entrar para a história do Judiciário gaúcho como o primeiro magistrado a perder o cargo por ato de exoneração. Como se sente? Foi um desfecho justo?
Marcelo Colombelli Mezzomo — De fato, administrativamente, creio que foi o primeiro caso, o que se deveu ao fato de eu ainda não ser vitaliciado, pois, se fosse, teria sido aposentado com tempo proporcional. Se há casos onde este tipo de aposentadoria compulsória ocorreu, não sei. Quanto ao questionamento de como me sinto? Ótimo, agora, poderei desenvolver minhas potencialidades na sua plenitude e produzir muito mais pela sociedade gaúcha, além de me realizar muito mais como pessoa. Quanto ao desfecho ter sido justo, há alguns prismas sob os quais se pode analisar a questão. Inicialmente, insta consignar que apenas um fato estava em apuração no feito, e, portanto, a priori, tecnicamente não é correta a menção como elemento de convicção para decidir de outros processos, salvo os que tivessem trânsito em julgado. Os fatos em apuração nestes outros feitos devem ser avaliados nos respectivos processos, e em nenhum outro lugar. Somente após eventual aplicação de penalidade e trânsito em julgado poderiam ser utilizados como elementos de embasamento em decisão, isso tudo em observância ao devido processo legal e ao princípio da inocência, que norteia a ampla defesa. Ainda há a considerar a questão da proporcionalidade. Considerada a premissa de que somente o fato objeto do processo poderia ser tomado em linha de conta, e tendo-o isoladamente considerado, parece-me que a punição é um tanto desproporcional. Mas como referi, pouco me importa se o julgamento foi justo ou não, proporcional ou não, importa-me, isso sim, o fato de que me concedeu aquilo que eu queria, que era deixar o Judiciário. A ausência de recurso contra a decisão da minha parte não implica, por conseguinte, aceitação da justiça ou do acerto da decisão, mas simplesmente significa que não tenho interesse em recorrer. Aliás, seria incoerente pedir demissão e depois, e eu já tinha pedido em dezembro. Simplesmente, não me interessa mais permanecer no Judiciário.
ConJur — Afinal, qual a conduta que se espera de um magistrado na sociedade?
Marcelo Mezzomo
— Isso deve ser perguntado à sociedade. Ela é que deve definir de acordo com sua realidade atual. Este parâmetro deve evoluir e não pode ficar vinculado a arquétipos arcaicos. Vejo o cargo de magistrado como qualquer outro cargo público, e, por conseguinte, não acho que o comportamento do magistrado deva ser diferente do que qualquer outro servidor público. Este, a meu juízo, deve ser o parâmetro. Por outro lado, creio que se meu comportamento era tão inadequado, não teria sido pedida minha permanência em duas das três comarcas onde jurisdicionei. Em Erechim, foi enviado ao TJ-RS um abaixo-assinado, firmado por centenas de populares, solicitando a minha permanência na comarca, tendo em vista o trabalho contra as drogas e delinquência juvenil que realizei nas escolas da região (18 municípios). Em Planalto, foi enviado à Presidência do TJ-RS um pedido subscrito pelos advogados da comarca e pelo prefeito, solicitando minha permanência na cidade. Tirem suas conclusões.
ConJur O senhor teve alguma dificuldade em cumprir ou se adequar a certas formalidades e exigências quando assumiu?
Marcelo Mezzomo
—Apenas ao formalismo com que as pessoas se dirigem ao juiz, algo que nunca me apeteceu. Sempre tratei as pessoas com o mínimo de formalidade possível e dispensava o “excelência”. Não vejo sentido em cerimonial e formalidade. O importante é a finalidade, a missão: resolver os problemas e os conflitos.
ConJur A partir de que momento o senhor se decepcionou com a carreira e por quê?
Marcelo Mezzomo
—A partir do momento em que me senti engessado, vendo muitos problemas, muitas coisas erradas e nada podendo fazer. A jurisdição é inerte, e o juiz não pode sair atrás dos problemas; eles têm que vir em processos e na forma com que neles se apresentam resolvidos. Isso comecei a verificar nas 53 palestras que ministrei, gratuitamente, em 18 municípios de quatro comarcas, onde pude ter contato com os problemas e as reivindicações das comunidades. O jeito informal com que sempre tratei a todos me permitiu um contato mais próximo com a população e uma visão privilegiada dos seus problemas e anseios. Sou um indivíduo de ação. Me sentia frustrado. O que eu pude fazer fiz, mas era pouco em vista do que eu queria fazer para resolver estes problemas. Outro aspecto é que a atividade do cargo, hoje, acaba por se tornar um tanto maçante intelectualmente e muito repetitiva, o que se deve ao fato de que as demandas são em sua maioria repetitivas. Não conseguia me ver 10 anos à frente dando os mesmo despachos nas mesmas espécies de ações. Hoje, este tipo de demanda repetitiva abarca talvez mais de 75% da jurisdição cível. Estava em uma condição em que não lograva desenvolver todas as minhas potencialidades, e isso me trazia muita insatisfação pessoal, que não é contraposta pela segurança, remuneração ou status do cargo, pelo menos não pra mim.
ConJur Meses antes do julgamento final do Órgão Especial do TJ-RS, que culminou com sua saída, o senhor tomou a iniciativa de deixar o cargo, o que foi sustado. Este pedido de demissão estava ligado ao seu desencanto com o Judiciário ou tinha a ver com o processo?
Marcelo Mezzomo —Absolutamente nada tinha a ver com o processo o pedido de exoneração. Se eu estivesse preocupado com o resultado do processo, iria agora recorrer. O fato de eu não recorrer evidencia que, efetivamente, o que eu queria era deixar o Judiciário e não evitar o julgamento ou suas consequencias, mesmo porque havia outros processos em curso, inclusive o que tratava do meu vitaliciamento. Aliás, em dois e-mails que enviei ao TJ-RS, em dezembro e janeiro, eu mesmo solicitei que, no julgamento, fosse acatada a proposta de penalidade que já havia sido cogitada por ocasião da abertura do processo; ou seja, a exoneração. Há muito tempo, o pessoal que comigo trabalhava mais proximamente e mesmo alguns advogados das comarcas onde jurisdicionei sabiam do meu desejo de deixar o Judiciário.
ConJur O que de fato aconteceu na sorveteria? Estava ‘‘alterado’’, como relata a testemunha? O senhor assediou a moça?
Marcelo Mezzomo
—Como disse já várias vezes, nada de mais ocorreu. Um elogio normal. Inclusive, nas reportagens, consta que somente registraram ocorrência após saberem, por outros, que eu era juiz. E o fizeram por receio de uma eventual represália, coisa que eu jamais faria e que juiz algum faria, pois sequer se tem este poder. Ou seja, o registro foi pelo receio de ser um juiz e de uma imaginada e irreal represália, e não pelos fatos em si, sendo que sequer houve representação no feito criminal. O registro policial foi arquivado logo depois. A pretensa alteração mencionada é, antes, fruto da interpretação equivocada das pessoas do que de qualquer outra coisa. Outrossim, recordo que o termo “assédio” tem uma tipificação legal específica, e a conduta descrita legalmente jamais se amoldaria ao caso, onde não havia nenhuma hierarquia, não houve nenhuma espécie de pressão ou ameaça. Portanto, se há algo que não houve foi assédio, e este termo está sendo mal-usado por falta de conhecimento de quem o tem utilizado.
ConJur Antes deste episódio, o senhor já respondia a três processos, por conduta inadequada. Que casos são esses? Qual o desfecho?
Marcelo Mezzomo
—Um era relativo a um acidente de trânsito, sem vítimas e com danos leves, mais precisamente uma sinaleira e um canto de pára-choque, pelo que recordo. Neste, fui censurado. Os outros dois não são casos graves, mas não posso especificá-los, pois os processos tramitam em sigilo — ainda que agora tenham perdido o objeto. Este sigilo é criado em benefício da parte, mas também para preservação da instituição. Por isso, não posso revelar seu conteúdo, já que a situação não diz respeito somente a mim. Todavia, é fácil descobrir. Pelo que soube, os fatos tratados nestes outros dois processos que não foram julgados já foram amplamente noticiados pela imprensa.
ConJur Por que o senhor nunca aplicou a Lei Maria da Penha?
Marcelo Mezzomo
—Porque ela é inconstitucional. Simplificadamente, ela introduziu uma nova diferenciação no tratamento entre homens e mulheres, quando o texto constitucional estabeleceu que eles seriam iguais nos termos “desta Constituição”; ou seja, nos termos da redação de 1988, não se podendo criar novas hipóteses, tendo em conta o artigo 60, parágrafo 4º da Constituição Federal. Nas cláusulas pétreas e no texto de 1988 não existe autorização expressa acerca da possibilidade do tratamento diferenciado na questão de que trata da lei. Vale lembrar que, sendo a igualdade a regra, a exceção tem de ser expressa. Minha fundamentação é técnica, de ordem constitucional, nada tem com machismo ou coisa que o valha. Ninguém conseguiu resolver satisfatoriamente o problema hermenêutico e legal que apontei. Erram os que invocam a questão da igualdade formal e material. Não questiono a possibilidade de tratamento desigual aos desiguais. A questão é outra: a Constituição permite este tratamento diferenciado no caso específico? Ele não ofende os artigos 5º, inciso I, e 60, parágrafo 4º, da CF/88? Quem quiser saber mais, leia, de minha autoria, “Conhecendo a Inconstitucionalidade da Lei de Violência Doméstica”, e, principalmente,“ Violência Doméstica, Constitucionalização Hermenêutica e Aplicação do CPC”, sendo que, neste último, apontei a solução simples, seja com alteração do texto ou mediante interpretação conforme a Constituição e sem redução de texto, que constitucionalizaria a lei. Aí, restaria somente o problema da falta de estrutura de apoio para dar boa aplicação à lei, outra questão desconhecida da população em geral, que não sabe que, hoje, as medidas acabam em sua maioria por se transformar em exortações vazias e inócuas diante da falta de uma estrutura executiva que lhes dê efetividade.
ConJur O fato de não aplicar esta lei ‘‘colaborou’’ para que a sociedade o rotulasse de machista’?
Marcelo Mezzomo
— Bem, só me rotulou assim quem, infringindo a primeira coisa que se aprende em uma faculdade de Direito e que o mínimo bom senso recomenda, passou a falar, precipitadamente, da questão e da minha posição sem nem ao menos conhecer os seus fundamentos. Não se fala daquilo que não se conhece, e se deve sempre procurar buscar os dois lados de uma questão. Esta a regra básica do bom senso e primeiro ensinamento da faculdade de Direito. Audiatur et altera pars (ouça-se também a outra parte), já diziam os romanos. Quem me rotulou de machista agiu de forma atabalhoada e precipitada, falando do que não tinha conhecimento. Os fundamentos de minhas decisões, os quais podem ser vistos nos dois artigos acima mencionados, antes de veicularem qualquer machismo, são uma exaltação à igualdade de direitos. Preconizam uma sociedade de cidadãos, sem distinção, salvo quando a Constituição assim o autorize. E o fato de ser uma posição isolada não subtrai sustentação aos argumentos que utilizei. Recordo que Copérnico, Kepler e Galileo também foram minoria quando diziam que a terra rotacionava em torno do sol. Às vezes, a tese minoritária revela uma abordagem inovadora, mas correta. E tanto há fundamento no argumento da inconstitucionalidade que há ação no Supremo tratando do tema. As pessoas precisam começar a analisar as questões com mais atenção, profundidade e, principalmente, conhecimento de todos os aspectos daquilo sobre o que se põem a falar — e sempre lembrando que nas brechas constitucionais está a semente do totalitarismo e da opressão. Isso a história ensina com pródigos exemplos.
ConJur O que senhor pensa da ampliação dos direitos das mulheres?
Marcelo Mezzomo
— Mas eles não são iguais aos dos homens? Se ainda não são, há algo de errado, pois homens e mulheres são iguais, são cidadãos. Não é questão de ampliar, mas sim de assegurar que sejam os mesmos na lei e na prática, salvo naquilo em que a Constituição permitir (com seu texto de 1988, não outro posterior) tratamento diferenciado. Disse nas minhas decisões e artigos e aqui repito: para mim, as mulheres não ficam a dever nada para os homens em nenhuma função. Mesmo a compleição física, que em regra privilegia os homens, que seriam mais fortes e mais aptos a algumas funções com exigência física, hoje pouca ou nenhuma importância tem. Quem já viu, por exemplo, em um canavial, as mulheres, ombro a ombro com os homens no trabalho, tem esta constatação clara. As mulheres são metade da força de trabalho do país e chefes de muitos lares. Temos de começar a ver cidadãos e não sexos. Prestigiar inteligência, caráter e competência, sem distinção de sexo. O protecionismo, sobretudo o inconstitucional, antes de ajudar, só fomenta o machismo.
ConJur A propósito: como deve atuar um juiz quando se convence que a lei que aplica é inconstitucional?
Marcelo Mezzomo
— Deve declará-la inconstitucional incidentalmente no processo e deixar de aplicar o texto por este motivo. Tratei do tema no artigo “Introdução ao Controle de Constitucionalidade, Difuso e Concentrado”, de livre acesso na internet. Deve decidir com coragem moral e de acordo com sua consciência, convicção e argumentos, mesmo sabendo que vai desagradar muitos e arrostar a crítica (muitas vezes, destituída de fundamento, conhecimento e precipitada), o escárnio e a incompreensão.
ConJur Que doutrinadores o senhor segue?
Marcelo Mezzomo
— Não sigo doutrinadores. Eu faço minha doutrina. Mas confesso que, quando era estudante, tinha especial predileção pela métrica intricada e quase matemática dos textos de Pontes de Miranda, que, como eu, era apreciador da Matemática, da Física, da História e, principalmente, da precisão.
ConJur O senhor se alinha à Justiça Alternativa ou alguma corrente jurídica?
Marcelo Mezzomo
— Não. A Justiça deve ser buscada caso a caso, com suas peculiaridades. Mas acho que o poder de interpretação não pode chagar ao ponto de alterar a essência do texto legal. Quem faz a lei é o legislador, não o julgador.
ConJur O que pretende fazer daqui para frente?
Marcelo Mezzomo
— Vou advogar, quero lecionar, o que acho ser minha grande vocação, e vou escrever. Já tenho mais de 80 trabalhos doutrinários jurídicos publicados em mídia eletrônica e impressa e vou continuar a escrever sobre Direito e outros temas. Agora mesmo, estou trabalhando em um livro de ficção que buscará apresentar algumas das teorias da vanguarda da ciência de forma acessível ao público leigo, permeando estas tratativas com uma narrativa bastante criativa. Também quero, na medida do possível, dar continuidade às palestras que realizei em Erechim (RS) sobre cidadania, direitos, obrigações, drogas, criminalidade etc. Como dizia, quando as findava: se eu conseguir trazer algo de positivo para uma pessoa que seja, o trabalho já vale o esforço.

O Avanço do Crime Organizado e a Implantação da Convenção de Palermo

Artigo publicado na 18° edição do Jornal Estado de Direito
Criminosos de alta periculosidade invadiram o depósito de drogas de Delegacia da Polícia, levando consigo armas e drogas. Não satisfeitos, explodiram a delegacia com quantidade considerável de dinamite, destruindo paredes, carros e inquéritos.
Esta história parece ter acontecido em regiões dominadas por máfias longínquas, mas, na verdade, aconteceu no pacato interior paulista, na cidade de Botucatu, em  10-11-2008.
Não se concebe mais o combate a organizações criminosas sem modernos instrumentos e técnicas de investigação.
O mundo abraçou a Convenção de Palermo que é o nome pelo qual é mais conhecida a Convenção contra o Crime Organizado Transnacional (CCOT) ou United Nations Convention against Transnational Organized Crime (CTOC). Foi adotada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), por intermédio da Resolução A/RES/55/25, de 15 de novembro de 2000, na cidade de Nova Iorque.
No Brasil, a Convenção de Palermo só foi promulgada quatro anos depois, com a edição do Decreto 5.015, 12 de março de 2004 (DOU 15/03/2004).
O objetivo da Convenção consiste em promover a cooperação para prevenir e combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional.
As manifestações do crime organizado afrontam o Estado, e sua repercussão nociva reflete o interesse dos países-membros da ONU na procura de mecanismos eficazes para esse enfrentamento. A comunhão global de interesses implica o reconhecimento de que a repressão ao fenômeno estudado somente alcançará êxito se houver estreita cooperação entre os países, principalmente contra as organizações transnacionais.
Cinco anos após a edição do Decreto 5.015/2004, dezenas de autoridades judiciárias têm recorrido ao texto da Convenção de Palermo, assim foi, por exemplo, em acórdãos da lavra das Ministra Eliana Calmon, na Operação Dominó (Ação Penal 460/RO); Ministra Jane Silva (HC 63.716/SP), em caso relacionado à Operação Anaconda; Ministra Laurita Vaz (HC 77.771/SP), no caso de casal de bispos fundadores de uma Igreja. O Min. Joaquim Barbosa do excelso Supremo Tribunal Federal também se socorreu da Convenção de Palermo ao tempo do recebimento da denúncia no caso “Mensalão” (Inq 2245/MG).
A Convenção de Palermo, ao trazer uma definição para grupo criminoso organizado e criar a obrigação de sua tipificação pelos países signatários e aderentes, contribuiu de forma vital para o aperfeiçoamento e eficácia dos mecanismos de prevenção, controle e repressão ao crime organizado.
A nova disciplina de confisco de bens de organizações criminosas, dentro de uma visão capitalista da repressão, a cooperação internacional, o treinamento de policiais e o uso de técnicas especiais de repressão ao crime organizado (vg., o uso de entregas vigiadas), traduzidas em ações de inteligência, são fortes indicativos de que o mundo globalizado consegue unir esforços e se articular para dar a resposta que a comunidade internacional aguarda contra essa ameaça ao futuro. Só com a efetiva cooperação internacional e o aperfeiçoamento dos instrumentos de combate ao crime organizado, previstos na Convenção de Palermo, podem ser desencorajadas ações da criminalidade organizada, ou seja, das empresas do crime.
A Convenção de Palermo é um excepcional instrumento de cooperação jurídica internacional, que pode colaborar de forma essencial na contenção de organizações criminosas como a que agiu no interior paulista recentemente.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ex-presidentes do Brasil na visão de historiadores

Segundo historiadores, poucos ex-presidentes se retiraram da vida pública, a maioria continuou a influenciar os rumos do Brasil.

Não se deixe enganar pela camiseta de malha e a disposição para comer pastéis. Lula está de férias, depois de oito anos de trabalho à frente da Presidência da República. Mas o ócio dos últimos dias, tanto em seu apartamento em São Bernardo do Campo, quanto na praia de Guarujá, não necessariamente será a tônica daqui para frente. A história do país revela que, tirando alguns casos da República Velha e na ditadura militar, a prática de se retirar da vida pública não é comum. Quem faz parte de um projeto político significativo continua influente. E dificilmente consegue sair de cena.

Sair de cena era uma opção mais comum nos primeiros anos da República. Embora o poder estivesse concentrado nas mãos de poucos políticos, pertencentes a grupos restritos que se alternavam na Presidência, alguns deles optaram pelo isolamento. Exemplo é Floriano Peixoto (1891-1894), o segundo presidente do país, que assumiu com a renúncia de Deodoro da Fonseca.

Quando seu mandato acabou, nem esperou Prudente de Morais chegar para tomar posse, estava muito doente e se afastou logo, embora tivesse muitos admiradores - conta a historiadora Isabel Lustosa, da Casa de Rui Barbosa, autora do livro "Histórias de Presidentes - A República do Catete" (Editora Agir).

Dono de uma casa no subúrbio e uma fazenda no interior do estado, o ex-presidente se afastou da vida política, segundo especialistas.

Floriano acaba sendo exaltado por ter uma vida simples, um despojamento com o exercício do cargo — conta o historiador Carlos Eduardo Sarmento, do Centro de Pesquisa e Documentação (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas. - Ele pegava o bonde para ir para casa, em Cascadura, onde ficava cuidando das rosas no jardim. Quando deixa a Presidência, com a aura de ter sido atraiçoado, morre pouco depois, recluso, vivendo como um cidadão comum, sem aspiração à participação política.

Campos Sales (1898-1902) foi outro da República Velha que também se isolou em sua fazenda, no interior de São Paulo, logo após o fim de seu mandato. Ainda assim, se elegeu senador e, posteriormente, foi diplomata na Argentina.

Ele saiu do Catete muito impopular, debaixo de vaias, com jornalistas lhe atirando caroços de jaca - conta Isabel. Já no fim do seu mandato, foram publicadas uma série de quadrinhas cujo tema era a solidão da qual ele sofria, à medida que os puxa-sacos iam se afastando e se voltando para o seu sucessor. Chamavam de "a solidão do Banharão", região de São Paulo onde ficavam suas fazendas, e para onde ele volta.

Outro caso similar foi o de Venceslau Brás (1914-1918), o vice de Hermes da Fonseca que acabou se tornando presidente no período crítico da Primeira Guerra Mundial.

Ele era discreto, apagado até, e saiu de cena completamente. Foi para Itajubá, em Minas - diz Isabel Lustosa. - Era um sujeito muito simples, um representante da classe média no poder. Costumava dizer que, depois de ser presidente, o sujeito não poderia almejar mais nada na vida e nunca mais se envolveu em política.

Mas nem mesmo na República Velha essa foi a regra. Em geral, eles continuavam fazendo política, atuavam politicamente. Foi o caso de Rodrigues Alves (1902-1906), que se reelege presidente inclusive, e Hermes da Fonseca (1910-1914), entre outros - afirma Sarmento.

Isabel Lustosa concorda com o colega. - Quem tem uma base política, um grupo econômico, um projeto, continua no jogo - diz a historiadora.

Washington Luis (1926-1930) foi deposto pela Revolução de 30 e acabou ficando por 17 anos no exílio, como forma de protesto contra Getúlio Vargas, um gesto para lá de político numa ditadura. O próprio Vargas, ao ser deposto em 1945, após 15 anos no poder, se isolou por um período em sua fazenda, em São Borja, no Rio Grande do Sul. Segundo historiadores, ele nunca deixou de ter influência na vida nacional, uma vez que continuava recebendo políticos por lá. Mas foi com pompa e circunstância que anunciou sua "volta" para a eleição de 1951. Eleito democraticamente, ele ficou no poder até 1954, quando se suicidou.

De acordo com os historiadores, Juscelino Kubitschek (1956-1961), com sua plataforma desenvolvimentista e a construção de Brasília, foi um dos mais populares presidentes do país. Tinha planos declarados de voltar à Presidência em 1965, se elegeu senador em 1962, mas acabou sendo atropelado pelo golpe militar de 1964, que tirou João Goulart do poder depois da renúncia de Jânio Quadros, suspendendo a democracia por 20 anos.

Os militares, na análise de Carlos Eduardo Sarmento, tiveram uma postura diferente da dos civis, e se recolheram mais após o mandato.

Justamente por conta de hierarquia, eles se afastavam e silenciavam, caso do
Médici, do Geisel e do Figueiredo, que chegou a dizer que queria ser esquecido - afirma. Mas isso tem a ver com o sentido da ação militar na política, não é padrão, destoa dos presidentes eleitos democraticamente.

Com o fim da ditadura e a retomada da democracia, na análise dos especialistas, a tendência é clara. Tirando Fernando Collor, que não era um político tradicional, não pertencia a um partido consagrado, e ainda ficou estigmatizado pelo impeachment, as denúncias de corrupção e a morte trágica de seu tesoureiro, Paulo César Farias, todos os demais presidentes do período têm atuação importante. Isabel lembra que mesmo o mais inexpressivo deles, Itamar Franco, elegeu seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso, e é atuante na política mineira.

O José Sarney é um político que nunca saiu de cena - cita Isabel Lustosa. - Ele segue essa lógica de ser ligado a um grupo político, a determinado projeto. Para os historiadores, dificilmente será diferente com Luís Inácio Lula da Silva.

O Lula tem um carisma muito superior ao do Juscelino, vive numa sociedade de mídia de massa, tem uma popularidade altíssima e condições físicas e etárias para ser um ator político - analisa Sarmento. Embora diga oficialmente que está afastado, tudo leva a crer que continuará exercendo um papel importante e pode mesmo pleitear uma nova candidatura. De toda forma, ele é um referencial político sim, construiu esse lugar para ele, um lugar de articulador, de conciliador, que não se supunha que pudesse ocupar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Em ato isolado, juiz vê "guerra institucional"

Simetria: AGU é questionada sobre impugnação ao CNJ

O juiz federal Eduardo Luiz Rocha Cubas, de Goiás, requereu ao Advogado Geral da União, Luís Inácio Adams, certidão com todas as verbas recebidas por integrantes da Advocacia da União, do Ministério Público Federal e de outras carreiras cuja remuneração é regulada pela Lei 11.358/06. O objetivo do magistrado é uma "eventual propositura de ação popular".

Como Adams anunciou a intenção de impugnar judicialmente a decisão do Conselho Nacional de Justiça que garantiu a aplicação da simetria constitucional entre as carreiras da magistratura e do Ministério Público Federal, Cubas pretende questionar, igualmente, a legalidade das verbas deferidas aos membros da advocacia pública e do Ministério Público Federal.

"Nunca houve na história da República a impugnação ou ameaça dos direitos e garantias deferidas aos membros do Ministério Público Federal, especialmente pela adoção do sistema de subsídios; somente se fazendo agora contra a Magistratura, por ocasião, inclusive, de uma decisão tomada pelo órgão de controle da Justiça", afirma o magistrado.

"Se acaso V.Exa. entender como ilegal a decisão proferida pelo Egrégio Conselho Nacional de Justiça garantidora da simetria constitucional, por certo também deverá entender como ilegais as rubricas acima exemplifIcadas pagos a seus subordinados bem assim as deferidas ao Ministério Público Federal", afirma Cubas no requerimento.

O magistrado afirma no documento que "as declarações trazidas aos Juízes Federais induzem a ideia de um esticamento das relações entre os Poderes, que deveriam ser de harmonia e respeito, mas que estão se traduzindo numa verdadeira guerra institucional, chegando os juízes a serem convocados a movimento grevista. Por certo, a ninguém interessa".

A iniciativa de Cubas é considerada pela magistratura federal um ato isolado.

Não é a primeira vez que o juiz federal questiona atos envolvendo titulares da Advocacia-Geral da União.

Quando atuava na Justiça Federal do Pará, Cubas viu frustrada uma ação que propôs contra Gilmar Mendes, então Advogado-geral da União, por injúria e difamação. O juiz alegou se sentir ofendido com representação assinada por Mendes. Cubas citara o presidente da República Fernando Henrique Cardoso por edital e o então AGU considerou que a atitude "beira as raias do deboche, além de arrostar comezinhas regras do direito processual".

O então procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, entendeu que não houve a intenção de difamação ou injúria.

Em 2009, o ministro Ricardo Lewandowski arquivou uma ação popular ajuizada por Cubas contra a indicação de José Antônio Dias Toffoli, ex-AGU, para o Supremo Tribunal Federal.

Segundo Cubas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “ultrapassou os limites do razoável” ao indicar um “representante absoluto de sua militância político-partidária”. Para o magistrado, Toffoli seria “um apêndice do Poder Executivo no seio do Poder Judiciário”.

Ao julgar extinto o processo sem a resolução do mérito, Lewandowski lembrou que "não compete ao Supremo Tribunal Federal
analisar requisito que, nos termos da Carta Política de 1988, é de atribuição privativa do Presidente da República e do Senado Federal, sob pena de violação ao princípio constitucional da Separação dos Poderes (art. 2º da Constituição)". 

A AGU informa que está analisando o requerimento protocolado por Cubas. Adams entende que qualquer mudança na Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional) tem que ser feita por outra lei. A AGU ainda estuda se vai impugnar a decisão do CNJ no próprio conselho ou no Supremo Tribunal Federal.

Eis a íntegra do requerimento protocolado na AGU:


Exmo. Sr. Advogado Geral da União

Eduardo Luiz Rocha Cubas, brasileiro, casado, Juiz Federal titular da Subseção Judiciária de Uruaçu, portador de CPF 120.687.468-67, IDT 1448951-DF, vem ante V.Exa., com o devido respeito e acatamento de estilo, nos termos do art. 1°,§ 4° e 5° da Lei 4.717/65, Lei de Ação Popular, expor e, ao final, REQUERER o que abaixo segue:

1 . Conforme informações prestadas pelo Exmo. Juiz Federal Presidente da AJUFE - ASSOCIAÇÃO DOS JúIZES FEDERAIS - a todos juízes federais do Brasil pela sua rede de comunicação, é intenção de V.Exa. a impugnação judicial da decisão proferida no Pedido de Providência nº 00002043- 22.2009.2.00.0000, do Conselho Nacional de Justiça, que garantiu a aplicação do princípio da simetria constitucional entre as carreiras da Magistratura e do Ministério Público Federal.

2 - A legalidade da referida decisão é manifesta, vindo a corrigir uma distorção de longa data em razão da pirâmide funcional e administrativa, ocupando a Magistratura o ápice dessa estrutura.

3 - Nunca houve na história da República a impugnação ou ameaça dos direitos e garantias deferidas aos membros do Ministério Público Federal, especialmente pela adoção do sistema de subsídios; somente se fazendo agora contra a Magistratura, por ocasião, inclusive, de uma decisão tomada pelo órgão de controle da Justiça.

4 - Vale lembrar, que a própria carreira da advocacia pública (latu sensu) também se submete ao mesmo regime de subsídios de que trata a Constituição Federal, e, igualmente, jamais se intentou contra alguns direitos decorrentes da estrutura de remuneração.

5 - Nesse sentido, a Lei 11.358/06 regula o sistema de remuneração dos advogados da união, procuradores e outras carreiras mediante "parcela única" (subsídio) sendo "vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória, os titulares dos cargos das seguintes Carreiras" sendo público e notório que os mesmos acumulam algumas rubricas fInanceiras (v.g auxilio-alimentação, auxiliomoradia, DAS's, inclusive para servidores cedidos ou requisitados).

6 - Se acaso V.Exa. entender como ilegal a decisão proferida pelo Egrégio Conselho Nacional de Justiça garantidora da simetria constitucional, por certo também deverá entender como ilegais as rubricas acima exemplifIcadas pagos a seus subordinados bem assim as deferidas ao Ministério Público Federal.

7 - Abstraindo-se outras questões de natureza política, onde não se verifIca por parte das instituições jurídicas, seja OAB, MPF ou advocacia pública, a defesa de todas as prerrogativas da Magistratura, especialmente a justa retribuição pela força de seu labor, não me resta outra iniciativa senão colocar em xeque, igualmente, as tais verbas deferidas aos membros da advocacia pública (e MPF) e que são objeto de tanta celeuma institucional.

8 - De todo, as declarações trazidas aos Juízes Federais induzem a ideia de um esticamento das relações entre os Poderes, que deveriam ser de harmonia e respeito, mas que estão se traduzindo numa verdadeira guerra institucional, chegando os juízes a serem convocados a movimento grevista. Por certo, a ninguém interessa.

Isto posto, vem requerer CERTIDÃO PARA OS FINS DE EVENTUAL PROPOSITURA DE AÇÃO POPULAR consignando todas as verbas recebidas e/ou deferiveis aos integrantes das carreiras de que trata o art. 1° da lei 11.358/06, sejam elas em parcelas únicas ou em valores em separados, independentemente da natureza que se qualifique administrativamente, se indenizatória ou remuneratória (inclue-se, a título de exemplo, auxilioalimentação, auxilio-moradia, indenizações por venda de férias, incoporações, gratificações, DAS e etc).

Termos que pede deferimento

Brasília - DF.

11 de Fevereiro de 2011

Eduardo Luiz Rocha Cubas

Fonte: Blog do Fred

Ronaldo, fenômeno, dá adeus aos gramados

Chegou ao fim nesta segunda-feira uma das mais brilhantes carreiras da história do futebol. Aos 34 anos, Ronaldo não resistiu à intensa batalha diária contra os desgastes físicos acarretados pelas oito cirurgias ao longo da sua trajetória, e anunciou que não jogará mais profissionalmente. É o fim para aquele que eternizou a camisa 9 com um talento que, não por acaso, lhe rendeu o apelido de Fenômeno e se transformou em um mito mundial
Foto: Reuters
O jogador que mais marcou gols na história das Copas do Mundo. Foram 475 gols como profissional, desde 1993. Em 97 partidas que disputou com a camisa da seleção brasileira fez 62 gols, dos quais 15 em Copas do Mundo.
Fontes: Globo Esporte, La Gazzeta dello Sport, Dail Mail, Ole, UEFA, L’Èequipe , FIFA

Foram 475 gols como profissional, desde 1993. Em 97 partidas que disputou com a camisa da seleção brasileira fez 62 gols, dos quais 15 em Copas do Mundo. O jogador que mais gols fez em Copas do mundo. - Estou aqui para falar que estou encerrando a carreira como jogador profissional. E dizer que essa carreira foi linda, maravilhosa e emocionante - declarou Ronaldo, ao abrir o seu emocionante pronunciamento.

Em uma concorrida entrevista coletiva no Centro de Treinamento Joaquim Grava, em São Paulo, o craque comunicou, exatamente às 13h02m, que não continuará atuando pelo Corinthians, clube com o qual tinha contrato até 31 de dezembro de 2011.

Ronaldo assombrou o planeta aliando velocidade e técnica de forma nunca vista antes, mas sucumbiu ao tempo e ao próprio corpo. Agora, se dedicará à família, à vida de empresário, a um projeto social e à fortuna que acumulou sendo um gênio da bola.

Ronaldo chegou ao centro de treinamento às 10h30m, acompanhado de dois dos seus quatro filhos - Ronald e Alex. Vestido com traje casual caminhou até o gramado onde os outros jogadores treinavam e parou a atividade. Por cerca de cinco minutos, discursou para companheiros, membros da comissão técnica e diretoria. No fim, todos o aplaudiram de pé e o abraçaram em uma cena comovente, que representa bem o respeito que todos têm por ele.

Foto: Marcos Ribolli / GLOBOESPORTE
Ronaldo chora ao anunciar sua despedida do futebol
- Todos sabem do meu histórico de lesões. Tenho tido, nos últimos anos, uma sequência de lesões que vão de um lado para o outro, de uma perna para a outra, de um músculo para o outro. Essas dores me fizeram antecipar o fim da minha carreira. Além disso, há quatro anos eu descobri, quando estava no Milan, que sofria de hipotireoidismo. É um distúrbio que desacelera o metabolismo e que, para controlá-lo, é necessário tomar alguns hormônios proibidos no futebol, por poder acusar doping. Imagino que muitos devam estar arrependidos por terem feito chacota sobre o meu peso, mas eu não guardo mágoa de ninguém.

O pronunciamento, que durou 45 minutos, foi recheado de emoção. Por diversas vezes, o craque precisou parar de falar para se concentrar e segurar as lágrimas. Várias partes do seu discurso foram pausadas, com interrupções para que pudesse respirar mais fundo. Num papel ele trazia algumas palavras que ensaiou em casa na noite passada, mas teve muita dificuldade em seguir o script. Ronaldo não conseguiu... e chorou.

Foto: Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE
Antes do adeus oficial, Ronaldo se despediu dos companheiros de clube e foi muito aplaudido. Não me imaginava viver sem o Corinthians" - Ronaldo
- Foi uma carreira linda, vitoriosa, emocionante... Tive muitas derrotas, infinitas vitórias, fiz amigos e não lembro de ter feito um inimigo. Tenho muitos agradecimentos a fazer. A todos os clubes em que passei: São Cristóvão, Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid, Milan... O Corinthians eu agradecerei logo mais. Quero agradecer a todos os jogadores que atuaram comigo e aqueles que jogaram contra, aos que foram leais e aos que foram desleais também. Agradecer aos treinadores com os quais tive boa relação e aos que eu tive divergências. E também agradecer aos patrocinadores que sempre acreditaram em mim.
Foto: Reuters
No ano 2000 Ronaldo assistindo o desfile de 7 de setembro ao lado do Presidente Fernando Henrique Cardoso
Para se distrair e tentar não deixar as lágrimas escorrerem, Ronaldo rabiscava um pedaço de papel, postava comentários no Twitter e brincava com os filhos, que estavam sentados numa cadeira ao lado. Alex, o caçula de 5 anos, chegou a se esconder embaixo da bancada, arrancando risadas do pai. Como prometido, o Corinthians teve um capítulo especial na hora do seu adeus.

- Tudo começou com um café da manhã com o presidente Andrés Sanches no Rio de Janeiro. Acreditei no projeto, demos um aperto de mão e eu falei para ele "pode trazer o contrato que eu assino até em branco se precisar". Reuters
Foto: Getty Images
Ao lado dos filhos Alex e Ronald, o Fenômeno falou e se emocionou durante 45 minutos. Muitos devem estar arrependidos por fazer chacota sobre o meu peso. Tenho hipotireoidismo e preciso tomar um hormônio que é proibido no futebol" - Ronaldo
Ronaldo foi apresentado como reforço do Corinthians em dezembro de 2008. Era o principal nome do projeto de reconstrução do clube, que acabava de voltar de um doloroso rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro, quando jogou a Segunda Divisão e retornava à elite. Pelo Timão, Ronaldo esteve em campo 69 vezes, marcou 35 gols e ganhou dois títulos em 2009: o Paulistão e a Copa do Brasil.

A perda de duas Libertadores, 2010 e 2011, foram os seus piores momentos. A última, inclusive, culminou numa reação violenta de parte da torcida. No retorno da Colômbia, onde o time foi eliminado ainda na primeira fase, o ônibus da delegação foi apedrejado, os atletas foram insultados e os muros do clube acabaram pichados. Ronaldo, claro, foi o principal alvo. Brasileiro Ronaldo
Foto: Getty Images
Ronaldo recebendo o título de melhor jogador do mundo, pela FIFA, em 2002, ao lado do francês Zinedine Zidane que ficou em terceiro lugar. Ronaldo foi eleito o melhor jogador do ano por três vezes, 1996, 1997 e 2002
- Tenho de fazer meu agradecimento a todos os brasileiros que choraram comigo quando eu chorei e que caíram comigo quando eu caí. Mas, dessa torcida brasileira toda, eu quero agradecer a do Corinthians. Nunca vi uma torcida tão vibrante, tão apaixonada e tão entregue ao seu time de futebol. É certo que em algumas vezes essa cobrança por resultado a torna agressiva e fora do controle. Mas eu não me imaginava viver sem o Corinthians. Agradeço ao Andrés, que é meu irmão, e digo que continuarei ligado ao clube da maneira que ele quiser. Muitas vezes vocês vão me encontrar torcendo pelo Corinthians no estádio. Aproveito e peço desculpas publicamente pelo fracasso no trajeto da Libertadores.

Ronaldo: 1993 no Cruzeiro, 44 partidas e 4 gols; 1994-1996 no PSV, 57 partidas e 54 gols; 1996-1997 no Barcelona, 49 partidas e 47 gols, 1997-2002 no Inter de Milão, 99 partidas e 59 gols.
Ao longo da carreira, ele balançou as redes 475 vezes, contando as passagens por Cruzeiro, PSV, Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid, Milan, Corinthians e Seleção Brasileira. O Fenômeno foi também eleito três vezes o melhor jogador do mundo pela FIFA e deixa o futebol com o status de maior artilheiros das Copas do Mundo e com dois títulos da principal competição do planeta - em 1994 como reserva e em 2002 como estrela.

Ronaldo: 2002-2007 no Real Madrid, 177 partidas e 104 gols; 2007-2008 no AC Milan, 20 partidas, 9 gols; 2009-2011, no Corinthians, 69 partidas e 35 gols.
Já na condição de ex-jogador, o Fenômeno tem planejado o que fará da sua vida. Empresário, vai cuidar dos seus negócios. Em julho ele pretende reunir amigos para uma despedida oficial. E, em breve, anunciará a criação de um instituto social chamado "Criando Fenômenos". Acostumado a deixar para trás seus adversários, Ronaldo encerra sua carreira por causa de um obstáculo bem mais próximo, citado em uma frase emblemática:

Os joelhos de Ronaldo marcado por cirurgias radicais
- Perdi para o meu corpo.

O anúncio oficial da aposentadoria de Ronaldo virou assunto em sites de todo o mundo. Até a Fifa se rendeu ao ex-camisa 9 do Corinthians e exaltou a carreira do maior artilheiro das Copas do Mundo na manchete do site oficial: "Sempre um Fenômeno".

A página da Uefa também dá destaque ao final da carreira de Ronaldo, que passou por PSV, Barcelona, Inter de Milão, Real Madrid e Milan no futebol europeu. O site lembrou uma declaração do Fenômeno de que sua única decepção na vida foi não ter conquistado a Liga dos Campeões do continente.

A entrevista de Ronaldo desta segunda-feira ganhou manchetes nos sites dos principais jornais do mundo. Na Espanha, o "Marca", de Madri, dá destaque à frase "Perdi para o meu corpo"

Em Barcelona, o "Sport" destacou a declaração "É a minha primeira morte", que o Fenômeno usou ao lembrar uma frase do ex-meia Falcão. O italiano "La Gazzeta dello Sport" traz fotos e vídeos da carreira do camisa 9 e também o depoimento de Massimo Moratti, presidente do Inter de Milão que contratou o craque em 1997.
Captura da tela do Site da FIFA
"Sempre um Fenômeno", diz Fifa sobre o adeus do maior artilheiro das Copas do Mundo
- Ronaldo foi o maior centroavante da história. Tenho muito afeto e carinho. O site do jornal português "Record" diz que o ídolo deu "ponto final a uma carreira fenomenal". Na França, o "L'Equipe" exibiu uma foto de Ronaldo com a taça da Copa do Mundo de 2002 e destacou que a sala de imprensa do Corinthians estava lotada, com jornalistas até do lado de fora, para o anúncio oficial.

O "Daily Mail", da Inglaterra, chama o Fenômeno de "lenda brasileira" e lembrou que Ronaldo chorou bastante ao se despedir dos gramados. Mas, talvez, a melhor manchete tenha saído da Argentina: "O gol está triste", escreveu o "Olé", que colocou a notícia do camisa 9 como a principal do site na tarde desta segunda.
Foto: Getty Images
O DIA QUE RONALDO E O BRASIL PERDERAM: - Final da Copa do Mundo na França em 1998, o goleiro francês Fabien Barthez salta sobre Ronaldo para evitar o ataque da seleção brasileira, sobre o olhar de Lilian Thuram. Brasil perdeu para a França, pelo placar de 3 a 0 no fatídico dia 12 de julho de 1998, no estádio de Saint-Denis.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Novo ministro do STF destaca o preparo de um juiz de carreira

Rafael Secunho
Em entrevista, na manhã desta segunda-feira (14), o novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, comentou a sua indicação pela presidente da República, Dilma Rousseff, e a valorização de seu nome por ser um magistrado de carreira. As últimas escolhas de ministros têm sido muito felizes. Acho que o fato de ser um magistrado há 30 anos me traz um bom preparo para assumir essa função, por conhecer o andamento das discussões do Supremo, afirmou.
A confirmação do nome de Fux para o Supremo é uma vitória para a AMB que defendeu a escolha de um juiz de carreira para a Corte mais alta do país. O presidente da entidade, Nelson Calandra , inclusive encaminhou no início do ano à Dilma, ao vice-presidente, Michel Temer, aos ministros da Casa Civil, Antonio Palocci, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, ofício em que expôs o desejo da Associação.
No documento, Calandra explicou que o país dispõe de uma Magistratura sólida. Os juízes passaram por concursos públicos marcados pelo rigor e antes de serem vitaliciados no cargo, foram acompanhados de perto tanto pelo Judiciário, por meio das corregedorias, quanto pela sociedade e pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), afirma em trecho do documento.
O presidente da entidade lembrou ainda que a nomeação de um nome das fileiras do Judiciário que tenha começado no primeiro degrau da carreira é importante também por conta da vasta experiência.
Na conversa com os jornalistas, realizada em sua residência, o novo ministro disse ainda que foi escolhido pela presidente pela meritocracia, por seu currículo. "O meu nome foi lembrado, mas eu também me fiz lembrar", declarou.
Ficha Limpa
Fux, que tomará posse no dia 3 de março, também tratou de temas como a Lei da Ficha Limpa, que foi concebida pela AMB, e da qual será o voto decisivo no julgamento. A norma impede a candidatura de políticos condenados pelo colegiado ou que tenham renunciado ao mandato, pode retroagir e com isso ter efeito na eleição de 2010.
Sem apresentar seu voto, o ministro disse que pessoalmente acha que a ideia da lei é muito boa, mas que será preciso analisar profundamente os casos que estão na fila de julgamentos do STF.
"Eu não conheço esse mundo ainda. Eu conheço tanto quanto conhecem os leitores laicos que não têm entendimento jurídico nenhum. Já quanto à lei em geral, é uma norma que conspira em favor da moralidade administrativa, como está na Constituição Federal. Agora, o caso concreto eu não

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Jobim subiu no telhado

O Ministro da Defesa Nelson Jobim anda cabisbaixo e irritado. De tanto levar bordoadas da Presidenta Dilma, como o adiamento da compra dos aviões de caça, sem consultá-lo, até a redução de poderes do seu ministério, perdeu a parte da aviação civil, resolveu comentar a vontade de pegar o boné, para o jornal Valor Econômico. Um jeito de chantagear publicamente o governo. A conseqüência foi imediata, o sargentão Dilma não gostou e disse poucas e boas ao canastrão. Saudoso dos tempos de Lula, quando casava e batizava e dava o nome da criança, Jobim já prepara o pijama e a cadeira de balanço.
Foto: Getty Images
BYE- BYE - Nelson Jobim, indicação pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deve ser o primeiro ministro a deixar o Governo Dilma Rousseff.

Fontes: Sul 21, Valor Online, Radar Online, Ansalatina

Segundo matéria do jornal Valor Econômico o ministro da defesa, Nelson Jobim, está desconfortável e contrariado com a falta de prestígio do seu ministério. Desde antes da posse da presidenta, ele acumula reveses. O mais sério é a revisão, à sua revelia, feita pela presidenta, do processo de compra dos caças franceses, Rafale para a FAB. O ministro também se sente escanteado em saber apenas pelo noticiário decisões importantes envolvendo seu ministério, como a retirada da aviação civil da órbita da Defesa, sem a sua participação mais efetiva.

Qualquer sujeito com o mínimo de vergonha na cara, já teria esvaziado as gavetas e partido para outra. Jobim prefere choramingar pelos cantos. Entre os amigos do Supremo Tribunal Federal (STF), aonde Jobim chegou a ser presidente, teria revelado a intenção em abreviar sua permanência no governo. Dizia pretender ficar no máximo dois anos, tempo que julga necessário para consolidar o comando civil na Defesa. Agora, analisaria a hipótese de sair neste semestre. Talvez a presidenta tenha planos para reduzir ainda mais a expectativa de sobrevivência do Ministro.

A relação de Nelson Jobim com a presidenta é fria e formal. Dilma demorou a receber o ministro em audiência, e quando decidiu revisar a compra de um lote de 36 caças para a FAB, pediu ao ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) para ler o relatório preparado pelo Ministério da Defesa, uma espécie de correição branca ao trabalho do Ministério de Jobim.

Jobim, é claro, não tem com Dilma o mesmo relacionamento que tinha com Lula, a quem deve a continuação como ministro. Sentindo-se frágil, tentou se fortalecer e ganhar a simpatia dos petistas levando o ex-deputado, mensaleiro, José Genoino para o Ministério da Defesa. O golpe pode ter saído pela culatra, pois agora o petista Genoino, é visto como candidato a vaga iminente de Jobim.

O PMDB, partido do ministro, entregou Jobim à própria sorte, ele não tem influencia político-partidária e os peemedebistas não vêem o ministério da defesa como um lugar fértil para as tramóias licitatórias e acomodações de correligionários. De bom grado trocariam o ministério por outro mais escancarado. A saída de Jobim seria até mais um bom motivo para buscar por um espaço ministerial mais lucrativo.

Nesse clima o site Radar Online, de Lauro Jardim, confirma que “foi ruim, muito ruim, a reação do Palácio do Planalto à reportagem do Valor Econômico relatando que Nelson Jobim pensa em deixar o cargo por se sentir desprestigiado.

Dilma Rousseff estaria uma arara, quando recebeu Jobim, no final da tarde desta sexta. Teria lhe dito “não aceitar recado pelos jornais”.

Com a cara deslambida, Jobim continuou no cargo. Tenta cumprir com comovente determinação, até o fim, o seu papel de garoto propaganda comissionado dos caças franceses.

Diante das circunstancias a bolsa de aposta garante que Nelson Jobim não come o peixe da Semana Santa sentado na cadeira de ministro.