terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Protesto de Clinton



    Foi com espanto e indignação que o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton se viu diante da obra do novo Museu da Imagem e do Som, equipamento cultural que vem sendo erguido no local da antiga boate Help, na praia de Copacabana. “Foi por essas e outras que, durante a minha presidência, reduzi drasticamente o apoio americano à UNESCO”, vituperou Clinton, dirigindo-se a um grupo de jogadores de peteca sessentões que se juntaram ao protesto presidencial. “A agência fica preservando cidadezinhas medievais na Europa, nas quais metade da população já morreu de tédio, e fecha os olhos para a destruição de patrimônios como a Help. Daqui a pouco fecham a Centaurus e ninguém dará um pio!”

    Num momento forte, Clinton retirou do bolso doze cartelas de Troianos sabor tutti fruti que acabara de comprar para a noitada, e perguntou: “Quem vai me ressarcir do prejuízo? Esse mauricinho prefeito?”

    Enrolando uma camisa no rosto e conectando o celular à rede Ninja, Clinton prometeu acampar em frente ao canteiro de obras do MIS até que as autoridades municipais anunciem a construção da Help em outro endereço. O movimento de ocupação, suprapartidário e não ideológico, atraiu cafajestes de todas as classes sociais, religiões, nacionalidades e posições políticas. "Da Copa, da Copa, da Copa eu abro mão/ Eu quero é mais dinheiro pra luxúria e perversão", cantavam todos num coro puxado por Clinton e Alexandre Frota.

    Antenado nas questões atuais, Clinton deu indícios de que acompanhou o sorteio da Copa do Mundo. "Aquela Fernanda Lima está estagiando onde?", perguntou a assessores próximos.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Aos Cachaceiros de Plantão e de Platão

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Dose “da boa”!
Hoje, domingo do pé de cachimbo e somente porque ontem foi sábado, nos dirigimos aos apreciadores da “água que passarim num bebe”.
De acordo com o Decreto nº 4.851, de 2003, o artigo 92 diz o seguinte sobre a cachaça: Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius (°C), obtida pela destilação do mosto fermentado de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro, expressos em sacarose.
Em junho de 2009, no 12º Expocachaça, o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) oficializou o dia 13 de setembro como o Dia Nacional da Cachaça.
A cachaça é uma bebida de grande importância cultural, social e econômica para o Brasil, e está relacionada diretamente ao início da colonização do País e à atividade açucareira, que, por ser baseada na mesma matéria prima da cachaça, forneceu influência necessária para a implantação dos estabelecimentos cachaceiros.
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Cachaça Guaramiranga – Ceará
Os primeiros engenhos foram criados no Brasil para atender a demanda europeia. Eram os locais destinados à fabricação de açúcar, propriamente a moenda, a casa das caldeiras e a casa de purgar. Todo o conjunto, chamado engenho-banguê, passou com o tempo a ser assim denominado, incluindo as plantações, a casa-de-engenho ou moita (a fábrica), a casa-grande (casa do proprietário), a senzala (lugar onde ficavam os escravos) e tudo quanto pertencia à propriedade.
Foi em 1518 que ocorreu a primeira instalação de um engenho no Brasil, época onde havia sido registrada a entrada de açúcar brasileiro na alfândega de Lisboa. Contudo, muitos consideram que a verdadeira indústria do açúcar foi implantada no Brasil a partir de 1530, com a vinda de Martim Afonso de Souza. Em 1570 já havia 60 engenhos no Brasil.
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Sirigüela, fruta tropical utilizada como tira-gosto
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Cachaça Colonial – Ceará
A necessidade de mão de obra levou os donos dos engenhos a tentar, sem sucesso, escravizar os indígenas. Então optaram por trazer escravos da África. Décadas depois, a cachaça, um destilado dos subprodutos da produção do açúcar, melaço e espumas fermentados, serviu de troca no comércio de escravos. Os senhores de engenho dominaram a economia e a política brasileira por séculos, desde a época colonial, passando pelo império e chegando à República, embora ao longo dessas épocas tenham tido fases de declínios e reerguimentos. Os primitivos engenhos implantados no início do século XVI geraram no século vinte o setor sucroalcooleiro, que no início do século XXI se posicionou em segundo lugar na matriz energética brasileira.
Até meados do século XX os engenhos eram a principal indústria sucro-alcooleira, esteio da economia do Brasil e, em especial, de Pernambuco, Piauí, Paraíba, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Ceará e São Paulo.
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Torresmo de porco – outro tira-gosto apreciado
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Cachaça Chave de Ouro – Ceará
A cachaça é uma bebida de grande importância cultural, social e econômica para o Brasil, e está relacionada diretamente ao início da colonização do País e à atividade açucareira, que, por ser baseada na mesma matéria prima da cachaça, forneceu influência necessária para a implantação dos estabelecimentos cachaceiros.
Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade da exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vindas do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.
Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho d’Oporto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana de açúcar – Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura. É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim – vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se. Os Senhores de Engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.
Dos meados do Século XVI até metade do Século XVII as “casas de cozer méis”, como estão registradas, se multiplicam nos engenhos. A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça.
A descoberta de ouro nas Minas Gerais trouxe uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço. A Cachaça ameniza a temperatura.
Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da Cachaça.
Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em 1756 a Aguardente de Cana de Açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, abatida por um grande terremoto em 1755.
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Piaba frita à milanesa – tira-gosto indispensável em algumas regiões brasileiras
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Cachaça Nordestina – Pernambuco
Cachaça, pinga, cana ou canha é o nome dado à aguardente de cana, uma bebida alcoólica tipicamente brasileira. Seu nome pode ter sido originado da velha língua ibérica – cachaza – significando vinho de borra, um vinho inferior bebido em Portugal e Espanha, ou ainda, de “cachaço”, o porco, e seu feminino “cachaça”, a porca. Isso porque a carne dos porcos selvagens, encontrados nas matas do Nordeste – os chamados caititus – era muito dura e a cachaça era usada para amolecê-la.
Na produção colonial de açúcar, cachaça era o nome dado à primeira espuma que subia à superfície do caldo de cana que estava sendo fervido. Ela era fornecida aos animais ou descartada. A segunda espuma era consumida pelos escravos, principalmente depois que fermentasse e também passou a ser chamada cachaça. Posteriormente, com a destilação da espuma e do melaço fermentados e a produção de aguardente de baixa qualidade, esta passou a ser também denominada de cachaça e era fornecida a escravos ou adquirida por pessoas de baixa renda. É usada como coquetel, na mundialmente conhecida “caipirinha”.
É obtida com a destilação do caldo de cana de cana-de-açúcar fermentado. A fermentação do melaço, também utilizada, também dá origem ao rum.
A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico. É uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da história.
Devido ao seu baixo valor e associação às classes mais baixas (primeiro os escravos e depois os pobres e miseráveis), a cachaça sempre deteve uma áurea marginal. Contudo, nas últimas décadas, seu reconhecimento internacional tem contribuído para diluir o índice de rejeição dos próprios brasileiros, alçando um status de bebida chique e requintada, merecedora dos mais exigentes paladares.
O total de produtores de cachaça em 2011 alcançou no Brasil os 40.000, sendo que apenas cerca de 5.000 (12%) são devidamente registrados. Por ser uma bebida popular que vem há séculos acompanhando o povo brasileiro, é conhecida por inúmeros sinônimos como abençoada, abrideira, água que passarinho não bebe, amnésia, birita, codório, conhaque brasileiro, da boa, delas-frias, danada, divina, espevitada, de-pé-de-balcão, do balde, espírito, fava de cheiro, fia do sinhô de engenho, gasolina de garrafa, geribita, imaculada, januária, lambida, levanta velho, lisa, malta, mandureba, maria branca, mé, néctar dos deuses, oleosa, paratí, pitú, preciosa, queima goela, refrigério da philosophia, rum brasileiro, salinas, semente de arenga, suor de alambique, terebintina, tinguaça, uca, uma que matou o guarda, vinho de cana, vocação, ypióca, etc. Seus sinônimos passam de 2.000 e a cachaça é, sem dúvidas, a palavra com mais sinônimos na língua portuguesa e talvez em qualquer outra língua. (Fonte: Wikipédia, bêbedos, provadores, produtores e pinguços que não quiseram os nomes revelados).
Mas, cá entre nós, a história da cachaça, às vezes, vira uma estória. Alguns a consideram uma “droga lícita”, provavelmente pelo fato de gerar recolhimento de impostos. Mas é algo que gera sikgnificativa dependência e, na maioria desses casos, provoca o óbito em função das complicações que submete à saúde.
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Tripinha de porco, frita – tira-gosto importante para quem bebe mais de uma dose
A cachaça, dizem os antigos moradores de Redenção/CE, onde se tem notícia que surgiram os primeiros engenhos por conta do grande número de escravos, vindos principalmente das terras africanas, tem vários tipos de efeitos sobre o corpo humano.
Muitos bebem uma dose para “tomar um banho”. Outros, para espantar os azares da vida e outros tantos para “tomar alguma atitude que estava sendo adiada” (trocando em miúdos: para tomar coragem de fazer algo).
Em várias situações, três boas doses de cachaça (“da boa”) são suficientes para mudar o comportamento de alguns. Quando se ultrapassa esse limite, corre-se o risco de cometer bobagens.
Muitos têm o hábito de pedir uma “da boa”; ou “daquela que matou o guarda”; ou ainda uma “calibrina”. Nenhum bebedor de cachaça, entretanto, consegue explicar convincentemente o hábito de “mandar queimar” com Conhaque de Alcatrão São João da Barra ou Underberg. Há quem diga que há uma certa suavização da cachaça quando misturada com conhaque. Outros garantem que “muda o paladar” e a dose desce mais macia.
Uma boa cachaça pode ser servida para conversas entre amigos e pode provocar, também, acirramentos e até discussões mais violentas. Assim, os “experts” garantem que, nunca se deve ir além de três ou no máximo quatro doses da cachaça para manter o equilíbrio de uma boa conversa.
Pinguço é o consumidor que bebe uma “quartota” e, sempre, independentemente de ser na primeira ou qualquer outra dose, joga a “do Santo” no pé do balcão e joga depois aquela cusparada, também no pé do balcão.
Uns preferem limão como tira-gosto, outros preferem frutas ácidas (caju, tamarindo verde, manga verde com sal e pimenta do reino, etc.) e outros mais afeitos ao consumo, preferem mesmo é “passar uma das mãos nos beiços”.
Bom… vamos tomar uma para tomar banho?!

Lascou-se, Cururu!

Aos gritos de "Lascou-se, Cururu!", a britânica Polícia Militar cearense, trajando pele à prova de balas e armada com facas Tramontina e panelas Ironte, invadiu o petit chateau da traficante conhecida como Leninha Cururu. A traficante reagiu à investida policial arremessando tomos do livro "Um Desafio Chamado Brasil" de Ciro Gomes, em direção aos agentes da lei. Cinco policiais sairam feridos, mas... não correm risco de risos.

Na casa da traficante Cururu foi encontrada uma grande quantidade de drogas: 20 papelotes de cocaína, meio quilo de maconha, uma foto de Paulo Maluf, um poema de Susana Vieira, uma grade de cerveja Kaiser, três celulares da OI e vários santinhos com propaganda eleitoral de Luiziane Lins, atual Ministra do BNDS.

A assessoria de imprensa de Luiziane informou que a ex-prefeita e atual Miss Mundo das finanças não daria declarações sobre Cururu, alegando que estava muito ocupada com a campanha de modernização e segurança do BNDS. "Nossa meta é transformar o BNDS num Banco Belo e cuidar para fechar todos os buracos que impliquem na segurança dos vários cofrinhos dos correntistas", declarou enquanto saía cantando pneus em desabalada carreira.

Corações reais

O coração de um rei anda me perseguindo. Há muito venho recortando notícias sobre ele. A rigor, era um menino. Nem chegou a ser rei. Mas tinha um coração, e isto basta, para um rei ou para um menino.
Morreu aos 10 anos, tuberculoso, em 8 de junho de 1795, na França. Deveria ser conhecido como Luiz XVII. Não chegou a tanto. Seu pai, Luiz XVI, foi aquele que morreu guilhotinado com Maria Antonieta, sua mãe, em 1793, durante aquela coisa pavorosa que foi a Revolução Francesa.
Um menino-rei, fragilzinho, que não chegou a vingar, deixou, no entanto, um coração que continua a palpitar nas notícias, 205 anos depois.
Vamos ao coração dos fatos.
Quando o delfim Luiz XVII morreu em 1795, o médico Philippe-Jean Pelletan teve o ousado gesto de, durante a autópsia, ocultamente, embrulhar-lhe o coração num lenço antes que levassem o corpo à cova. Guardou o coração real num vidro com álcool. E ali estava o coração mumificado até que um aluno de Pelletan - não se sabe se por amar demais a realeza ou mesmo por brincadeira - surrupiou o coração. E assim passaram-se anos, até que, no leito de morte, o estudante que roubara o nobre coração teve um gesto igualmente nobre: implorou à esposa que restituísse o coração do delfim ao doutor Pelletan.
A política, sabemos todos, é um vai-e-vem de corações ensandecidos pulsando em torno do poder. O coração do delfim ficou lá no álcool todo o período napoleônico. Mas com a volta dos Bourbons ao trono da França o doutor Pelletan quis devolver o coração do menino ao coração do poder. Mas não foi de jeito. Luiz XVIII, que era tio de Luiz XVII, era um rei sem coração: não quis saber do coração do sobrinho.
Resultado: o coração do infante, rejeitado e exilado, acabou nas mãos do arcebispo de Paris e do conde de Chambord, e durante 80 anos esteve guardado no castelo de Froshdorf, em Viena.
Isto fazia um certo sentido, porque Maria Antonieta, mãe de Luiz XVII, era austríaca. E a Áustria naquele tempo era uma incubadora de princesas. Ali clonavam-se moças para se casarem com príncipes do mundo inteiro, até com Pedro I, imperador do Brasil.
Estou me referindo à clonagem, porque é preciso reconhecer no gesto do doutor Pelletan, guardando o coração do menino, uma atitude profética em relação aos estudos de DNA em nossa época. Não só ele, mas Maria Antonieta também previu o futuro. Antes de pôr a cabeça no cepo para ser decapitada, tirou uma mecha de seus cabelos e enviou-a à sua mãe, Maria-Teresa da Áustria. Esta, com a mesma intuição maternal e científica, guardou os cabelos da filha num medalhão.
Oh, amantes que guardais mechas de cabelos em caixinhas! Oh, amantes que guardais no coração o coração alheio, bem sabeis que, no futuro, uma surpresa vos espera!
Como uma mensagem numa garrafa atirada ao mar, o coração do menino e os cabelos de Maria Antonieta, mantidos em países diferentes, guardavam o código genético da família. E foi aí que o conto de fadas e a ciência se encontraram na esquina do século XX.
No ano passado, o duque de Beauffremont - representando uma das facções que disputam a linhagem e o trono francês - foi à Igreja de Saint Denis, penetrou na cripta real, empalmou o coração de seu antepassado e passou-o às mãos dos professores Cassiman (Universidade de Louvaine) e Brinkmann (Universidade de Munster), para que fizessem a análise do respectivo DNA, comparando-o com o código genético dos cabelos de Maria Antonieta. Entregou nas mãos da ciência o velho coração do menino, que jazia numa urna coberta com um veludo, onde estava bordada a flor-de-lis.
Portanto, quando a França se cansar de Chirac e Jospin e quiser restaurar a monarquia, já sabe onde encontrar o novo Luiz.
Mas insistindo ainda no coração dos fatos e antes de entrarmos nos fatos do coração, é preciso associar uma outra notícia.
Na mesma semana em que, afastando falsos delfins ainda pretendentes ao trono, deram realeza ao coração daquele menino de 10 anos, os jornais noticiaram que foi descoberto o coração de um dinossauro no estado americano de Dakota. O fato tem uma importância enorme, dinossáurica. Primeiro, porque o coração desse tescelossauro tem 66 milhões de anos. Se já estávamos sensibilizados que o coração do delfim tem 215 anos, agora, vejam bem, há corações que sobrevivem 66 milhões de anos.
Os amantes gostarão de saber disto. Carecerão saber disto. Um coração pode atravessar muitas idades. Um coração real ou mesmo pré-histórico pode ter muito a nos dizer.
Sobre o coração desse dinossauro - concluíram os cientistas - ali corria "sangue quente". É uma descoberta fantástica. E descobriram mais os pesquisadores: que esse arcaico coração tinha quatro câmaras. Não era, portanto, um coração simples, mas intrincado, como os que pré-historicamente ainda amam. E chegaram a detalhes curiosos: que a veia aorta de Willo - este o apelido que lhe deram - lembrava o coração dos pássaros.
"Ah, coração alado, desfolharei meus olhos nesse escuro véu!"
Como falar do coração alheio sem falar do próprio coração?
O que tem o coração do menino a ver com o coração do dinossauro. O coração de ontem, com o coração de hoje?
Juan Ramon Jimenez - poeta espanhol ganhador do Nobel em 1956 e que ninguém mais cita hoje - dizia que "todas as rosas são a mesma rosa".
E dizia Vicente Huidobro - um alucinado poeta chileno do princípio do século - que "o coração é o coração do coração e fala pela boca do coração".
Coisa delicada, o coração.
O depositamos nas mãos de alguém, e vai que esse alguém tropeça, e o coração por ser de vidro se espatifa no chão.
Coisa forte, o coração.
Tanto o de um menino-rei, quanto o de um dinossauro. Podem atravessar séculos ou milhões de anos e ainda nos passar alguma emoção.